P. N. da Serra da Capivara – PI

P. N. da Serra da Capivara – PI

Desmatamento do cerrado

Dormimos em Balsas, uma nova região de plantação de soja no sul do Maranhão e Piauí. Para quem viajou 3 semanas pela região do cerrado, é um choque ver tantos hectares desmatados para a plantação de soja.

Balsas está repleta de gaúchos que resolveram trocar o frio do sul pelo calor do cerrado nordestino. E, por isso, acabamos encontrando na cidade o melhor supermercado desde que saímos de casa. Para nossa felicidade, encontramos vários produtos da nossa querida terrinha: geléias Ritter, doce de leite Mu-Mu, arroz Tio João, etc. foi uma festa!!!

Logo que pegamos a estrada, fomos parados pela policia pela primeira vez em 21 dias: eram vários policiais armados até os dentes, que deveriam estar procurando outra coisa do que simplesmente conferir os documentos dos motoristas. Para nossa sorte, nos liberaram em seguida.

O caminho até a Serra da Capivara era longo, mas resolvemos atalhar para visitar um casal de amigos do Renato, o Thomas e a Damaris, que se mudaram há três anos para Uruçuí-PI. Assim, adiamos em mais um dia a nossa chegada a São Raimundo Nonato.

Como saímos de Uruçuí no meio da tarde, resolvemos voltar pelo mesmo caminho (asfaltado e mais longo) do que pegar a estrada de terra (caminho mais curto). Chegamos em Floriano às 8 horas da noite, muito cansados: não estávamos dispostos a procurar muito aonde ficar. No primeiro hotel que paramos, nos ofereceram o quarto mais simples por R$ 70,00, detalhe: com chuveiro frio!!! Achei um absurdo e, na mesma hora, o cansaço acabou e fomos procurar um local mais barato e encontramos um pela metade do preço, junto a um posto de gasolina. É claro que o banho também era frio e o café muito fraquinho.

Finalmente a chegada à Serra da Capivara – Caatinga, calor e seca

A viagem acabou sendo mais longa do que esperávamos, pois acabamos fazendo várias fotos pelo caminho. É justamente no interior que se encontram as melhores cenas do cotidiano do povo nordestino: mulheres com latas d’água na cabeça, vaqueiros vestidos com roupas de couro à moda Lampião, caminhonetes carregando muita gente nas caçambas, e por aí vai. Além disso, a paisagem muda radicalmente quando se sai do cerrado e se entra na caatinga: de uma hora para outras os cactos aparecem e as árvores, antes retorcidas e com galhos grossos, dão lugar a árvores de galhos muito finos, cheios de espinhos e sem folhas – aquela imagem cinza e, aparentemente, sem vida ia nos acompanhar daqui para frente.

Durante esse ano choveu pouco mais que 70 mm na região, e as plantações de caju, que se espalham quilômetros antes de chegarmos a São Raimundo, sofreram muito com a estiagem. Mesmo assim, ficamos encantados com a beleza dos cajueiros carregados de frutos vermelhos: o cheiro do caju é quase embriagante e a sua aparência é magnífica (só o gosto que repuxa um pouco na boca).

Chegamos à cidade e fomos direto para o camping que fica bem próximo à entrada do Parque Nacional, no sítio Mocó. O vilarejo é super agradável e fica aos pés da serra. Armamos a barraca, com direito a um pôr-do-sol batendo nos paredões de rocha da Serra.

Parque Nacional da Serra da Capivara

Foram 5 dias de MUITO calor na Serra da Capivara: as caminhadas têm que ser feitas de manhã bem cedo, pois o calor do meio dia é insuportável. Então, acabávamos sempre programando alguma trilha para o período da manhã e outro passeio menos cansativo para depois das 15 horas.

Aqui, os grandes atrativos são as pinturas rupestres: são mais de 600 sítios arqueológicos que representam mais de 25 mil conjuntos de desenhos de povos que viveram na região entre 6 e 12 mil anos atrás. Por todo o lugar que se caminhe, há sempre um sítio cheio de inscrições, cada um com alguma singularidade.

Durante esses dias, visitamos vários sítios como o Boqueirão da Pedra Furada, a Toca da Fumaça, a Toca do Caldeirão dos Rodrigues, o Sítio do Meio, o Baixão da Vaca, Toca do Pedro Rodrigues, o Sítio dos Veadinhos Azuis e outros tantos.

Mas, além dos sítios arqueológicos, caminhamos bastante por trilhas que levam a sítios mais distante ou a mirantes, dos quais se têm vistas maravilhosas da região, como o Alto da Pedra Furada e o Baixão das Andorinhas.

Ficamos impressionados com a fauna do local. Mesmo na época da seca, vimos mais animais do que nas regiões do cerrado por onde passamos: mocós, cotias, macacos-prego, tatus, soin (sagüi) e várias espécies de aves, como o urubu-rei.

Mas o mais inusitado foi ser espectador do banquete servido a uma suçuarana.

É isso mesmo: vimos a suçuarana abater em poucos segundos um carneiro pobre e inofensivo. É claro que uma cena dessas não poderia acontecer assim tão fácil. Na realidade, a suçuarana faz parte de um grupo de três que estão vivendo em um grande cercado em ambiente natural dentro dos limites do parque e, justamente naquele dia, elas iam ser alimentadas.O carneiro berrava muito tempo antes, já antevendo o seu destino. A cena do bichinho sendo levado era digna das passagens bíblicas que falam de sacrifício de carneiros. Mal chegamos perto do cercado, a suçuarana já sentiu o cheiro do animal e ficou preparada para o ataque. Nós estávamos com as pernas bambas e eu, confesso, mal consegui fotografar. Quando o tratador abriu a porta, ela nem quis saber de sair (para nossa alegria e alívio!), tão interessada que estava no pobre carneirinho. O bichinho não soltou um gemido, tão rápido e certeiro que foi o golpe da suçuarana. E aí o espetáculo terminou, pois ela levou a presa rapidinho para o meio do mato para dividir com as outras duas da sua espécie.

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