Jalapão – TO

 

Acordamos cedinho e já pegamos a estrada. Foram 530 km até Palmas, sendo que 70 de estrada de terra. As cidadezinhas de Goiás são muito bem cuidadas, com praças muito caprichadas e ruas limpas. Depois que atravessamos a divisa com o Tocantins, a paisagem mudou. Andamos cerca de 400 km na completa solidão: via-se o cerrado a perder de vista e durante todo o percurso não devemos ter encontramos mais do que 15 carros. Existem algumas pequenas cidadelas isoladas no meio do caminho, vivendo no meio do cerrado. Ao longe, na linha do horizonte, via-se a estrada, a qual parecia não ter mais fim. Apesar da estrada estar em ótimas condições, a viagem foi cansativa, pois a paisagem era muito repetitiva.

Chegamos em Palmas, por volta das 17 horas e por pouco não passamos pelo mesmo problema que tivemos em Brasília: os hotéis estavam lotados, mas por sorte encontramos uma vaga. Devemos passar o dia de amanhã aqui e no domingo, após o jogo do Brasil, devemos pegar a estrada novamente, rumo ao Jalapão. Aqui em Palmas, para inveja dos gaúchos, os termômetros estão marcando 39 graus, mas sinceramente não parece que está tudo isso não. Talvez esteja uns 33 graus.

Brasil Pentacampeão e Expedição Bemtevibrasil rumo ao Jalapão

A nossa ida ao Jalapão foi meio sem querer: quando vimos no mapa estávamos perto demais para simplesmente deixar passar e resolvemos aceitar o desafio. Pela manhã, como não poderia deixar de ser, vimos o Brasil consagrar-se Pentacampeão e a alegria só não foi maior porque não estávamos em Porto Alegre para poder comemorar com os amigos. Almoçamos em Palmas e depois tomamos o rumo de Ponte Alta do Tocantins. Resolvemos pegar uma estrada de terra desde Taquaruçu, mas depois nos arrependemos, pois a estrada não tinha atrativo algum e a que partia de Porto Nacional era toda asfaltada.

A cidade tem esse nome, pois existe mesmo uma ponte alta na cidade da onde os meninos se atiram no rio. Fomos tomar uma cerveja num boteco e presenciamos uma briga de faca entre duas mulheres e, se não bastasse isso, depois ficamos sabendo que um morador tinha sido morto no mesmo dia. Ai, ai, muitas emoções nos aguardam a caminho do Jalapão.

Jalapão

Foram 4 dias viajando pelas estradas esburacadas e pouco sinalizadas do Jalapão. Mas o charme do lugar é esse mesmo: guardar bem escondido uma área praticamente intocada. E, como se não bastassem as dificuldades naturais do Jalapão, fizemos alguns trechos à noite: quando escurece, tudo parece mais longe e os caminhos parecem se multiplicar. Durante 3 dias acampamos ao lado da casa de moradores locais, sempre à beira de rios simplesmente maravilhosos, com águas mornas (bem diferente da Chapada dos Veadeiros) e cristalinas.

No primeiro dia, chegamos à noite no nosso local de acampamento e de longe vimos umas luzes estranhas na frente da casa: quando nos demos conta, estávamos ao lado de um pequeno cemitério iluminado por velas que resistiam ao vento forte. Mas não adiantava, aquele era o melhor lugar para ficar: armamos a barraca e durante todo o tempo que ficamos ali, ficamos de costas para o local tenebrosamente iluminado e assim quase conseguimos esquecer que ele existia. O céu estava lindo e o Renato aproveitou para fazer fotos com longa exposição das estrelas.

Nesses 4 dias, visitamos a Cachoeira da Velha, o Fervedouro, as Dunas (cor de laranja) e a Cachoeira da Formiga. Parecem poucos atrativos para tanto tempo de viagem, mas, no Jalapão, leva-se quase um dia todo para percorrer 150 km. Durante esses dias, sempre íamos encontrando pessoas especiais, como o Seu Manoel, boiadeiro, que pediu que avisássemos a Dna. Maria (a que mora ao lado do cemitério) que ele chegaria para o almoço 3 dias depois (um percurso que nós fizemos em meio dia) e a própria Dna. Maria que, há 34 anos, mora completamente sozinha no meio do deserto do Jalapão.


De tudo, o que mais nos custou deixar para trás foram as águas maravilhosamente azuis da Cachoeira da Formiga – lugar encantado e, por enquanto, eleito o melhor banho de rio da viagem. Tantos rios, só poderiam trazer enxames de mosquitos loucos por sangue novo: hoje pela manhã, quando eu tomava banho no Rio do Sono, uma moradora se espantou com as minhas pernas: eram tantas as mordidas de mosquito que ela não duvidou e disse: Ih! Estragou tudo!!!!

No meio de tanta coisa boa, tivemos um pequeno contratempo: a nossa câmera digital não resistiu e também quis tomar banho nas águas do Rio Novo. Ou seja, não vamos ter muitas fotos do Jalapão para mostrar: o que vai deixar vocês com mais água na boca ainda (deixamos a máquina desligada por três dias para secar bem….voltou a funcionar….mas parece que afetou o foco …uma pena pois, daqui para frente vamos ter menos fotos no site. Mais fotos só em Porto Alegre, depois de revelar os slides).

Jalapão – uma das menores densidades populacionais do país

Chegar no Jalapão não é para qualquer um: as estradas esburacadas e os trechos de areia fofa limitam o acesso a esse paraíso àqueles que possuem carros altos e com tração 4 x 4. E talvez seja por isso que as paisagens ainda estejam tão preservadas. Além dos buracos, o Jalapão é um lugar onde se deve estar atento 100% do tempo: as estradas não são bem sinalizadas, existem poucos postos de gasolina e as chances de você conseguir ajuda, caso precise, são muito pequenas. Por tudo isso a região é conhecida como “deserto” do Jalapão: tem uma das menores densidades populacionais do país, só perdendo para a Floresta Amazônica – cerca de 1,2 habitante / km2.

Saindo de Ponte Alta de Tocantins (porta de entrada do Jalapão, onde a principal atração é pular da ponte da cidade direto no rio), as primeiras paradas são a Fenda Sussuapara (pequena fenda escavada na rocha, formando um pequeno cânion) e a Cachoeira do Lajeado (sucessão de pequenas quedas d’água). Mas elas não dão nem o gostinho do que será o Jalapão

A partir daí que começamos a sentir o verdadeiro espírito do Jalapão: cerrado a perder de vista, chapadões e morros solitários ao fundo, e a mais completa solidão.

Para chegar na Cachoeira da Velha a estrada parece ainda mais perigosa, mas os 40 km sacolejando no carro valem a pena: o Rio Novo despenca formando duas ferraduras de 100 metros de largura. E, seguindo o rio, toma-se banho na deliciosa Prainha da Velha: uma praia de areias claras rodeada de mata por todos os lados. Simplesmente maravilhosa.

Os próximos atrativos ficam próximos à cidade de Mateiros. No caminho, visita-se as famosas dunas cor de laranja do Jalapão. A cor é devido à erosão natural dos paredões de arenito (cor avermelhada) que ficam próximos dali: o vento acaba formando uma nuvem das pequenas partículas da rocha, que acabam caindo nas dunas, cobrindo-as com uma camada colorida. O charme do lugar fica por conta do pequeno córrego que corre aos pés das dunas: aproveite para tirar a areia do corpo.

Em Mateiros, a maior atração é o Fervedouro: um pequeno poço de onde borbulha, em meio à areia branca, uma água azul e cristalina. O borbulhar é tão intenso que faz com que não se consiga afundar. (É uma pena que o local tenha perdido parte de seu encantando: devido à visitação intensiva a água acabou mudando seu curso e baixou o nível da piscina.)

Ainda mais gostoso que o Fervedouro, é a Cachoeira da Formiga: uma pequena cachoeira forma uma piscina natural de águas completamente cristalinas e de coloração azulada. Com certeza é o banho mais delicioso da viagem.

O Jalapão é isso: quilômetros e quilômetros de estradas ruins, cercadas por cerrado quase virgem e morros vermelhos ao fundo, tudo isso cortado por rios de águas mornas e transparentes.

 Obs: Postos de Gasolina: Para dar a volta completa no Jalapão, conhecendo os seus atrativos principais, percorre-se cerca de 650 km. Hoje existem postos de gasolina em Ponte Alta, São Félix do Tocantins, Mateiros e Novo Acordo.

Mesmo assim a viagem deve ser bem planejada, para que você não fique no meio da estrada sem combustível. Diz-se que é fácil de encontrar diesel nas outras vilas, mas gasolina é artigo raro por lá: só nos postos mesmo. Lembre-se: preste atenção na estrada, pois cada quilômetro errado, representa combustível desperdiçado.

Obs: Alimentação: abasteça-se com alimentos em água em Ponte Alta, pois só existem mini-mercados em Mateiros, São Felix e Novo Acordo. Entre os vilarejos não se acha nada.

Como chegar: De Palmas, a melhor opção é seguir até Porto Nacional e de lá para Ponte Alta do Tocantins: este trecho está todo asfaltado e em boas condições. Existem outras opções, como seguir por Taquaruçu até Santa Tereza do Tocantins, mas a estrada é de terra e sem atrativos. Em Ponte Alta, deve-se pedir informações sobre onde começa a estrada para o Jalapão e depois segui-la até o final da viagem. Só se deve deixar a estrada cascalhada principal, para visitar os atrativos naturais.

Camping – para quem quer mais liberdade para conhecer o Jalapão, a melhor maneira é o camping selvagem. O melhor é acampar próximo aos rios e as dicas são as seguintes: ao lado da casa da Dna. Maria, na Ponte do Rio Novo e ao lado da Balsa, no Rio do Sono. Próximo a Mateiros, existem os campings da Cachoeira da Formiga e do Vicente, que têm alguma infra-estrutura para os campistas.

Quanto tempo ficar: para dar a volta completa no Jalapão, é preciso, no mínimo, 3-6 dias.

O que não pode faltar na mochila: roupa de banho, repelente, protetor solar, muita água e comida.

Taquaruçu.

Ontem dormimos em Palmas e hoje pela manhã visitamos Taquaruçu, a mesma cidade da festa junina que fomos na semana passada. Já tinham nos falado bem da cidade, no sentido de que ela teria um grande potencial ecoturístico e resolvemos ir até lá para conferir. Na realidade, nenhum de nós estava com “aquela” vontade de conhecer Taquaruçu: depois de 4 dias maravilhosos no Jalapão, a sensação era de que nada seria tão bom e bonito. Mas, fomos mesmo assim e o passeio nos surpreendeu: são muitas cachoeiras na cidade (aproximadamente 100, em um raio de 25 km).

Vimos macacos-prego, cotias e uma série de pássaros coloridos nas trilhas. Impossível conhecer todas as cachoeiras e trilhas de Taquaruçu, por isso escolhemos 3 delas: Cachoeira do Evilson com 20 m de altura, Cachoeira do Roncador com 70 m e a Cachoeira da Sambaíba com 15 m.
À noite, quando voltamos para Palmas, visitamos a Feira 304 Sul, uma feira ao ar livre onde se encontra de tudo: alimentos a granel, comidas prontas, hortifrutigranjeiros, carnes, peixes, roupas, cds, ervas medicinais, poções que curam, utensílios domésticos e mais tudo o que se puder imaginar.

Viagem realizada em 2002.

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