Serra das Confusões – PI

P. N. da Serra das Confusões – PI

Eu tive que trocar a paz do Sítio Mocó pela cidade de São Raimundo, pois não podia mais acampar, já que o Renato ia precisar do carro – e a nossa barraca fica na parte superior da Land. A cidade contrasta com o que vimos nos dias anteriores: não há saneamento básico e parte do esgoto corre a céu aberto causando mau cheiro no ar e fazendo com que bandos de urubus sobrevoem a cidade. Mas, o que mais nos chamou a atenção foram os açougues do mercado público: onde não existe freezer e os pedaços de carne ficam expostos em bancadas de cimento.

Durante esse período, visitei o Museu do Homem Americano, que nos dá uma verdadeira aula de história, antropologia e geografia e é digno de primeiro mundo. A visita foi ainda mais interessante, pois a Eliete, que trabalha no Museu e também é dona do cam[ing que ficamos lá no Sítio Móco, acabou me levando para salas especiais dentro do Centro Cultural onde cerâmicas são restauradas, os materiais são analisados e catalogados, e onde são guardados os materiais orgânicos (ossos e vegetais). Mas o mais interessante foi poder ver de perto a escavação de uma urna funerária encontrada há poucos dias – o trabalho minucioso é realmente impressionante e apaixonante.

O Renato saiu as 5 horas da manhã com dois guiaso Cícero e o Waltércio, visitar o P.N. Serra das Confusões, que fica a 100 km de São Raimundo Nonato. A estrada é muito ruim e a Land mostrou-se, mais uma vez, muito guerreira. No meio do caminho, o retrato da seca e da pobreza do sertão: uma senhora grávida de 8 meses pegava água em um açude praticamente seco e sujo. A água dos açudes serve tanto para beber, quanto para tomar banho, lavar louça e para os animais beberem.

A descida da serra é por uma estrada que foi aberta à picareta e mostra uma paisagem semelhante à Serra da Capivara: caatinga a perder de vista com paredões de arenito formando cânions. Lá embaixo, no entanto, a área era bem mais úmida com árvores maiores e muitos olhos d’água.

Na Gruta do Rio dos Bois, os guias montaram um rappel de 40 metros e, neste mesmo local, eles pegaram uma cobra e a colocaram numa pequena caixa para ser enviada posteriormente ao Instituto Butatan. Mais tarde, até um banquete foi servido ao pequeno réptil: um grilo e muita água.

A fauna da Serra das Confusões é semelhante à da Serra da Capivara, mas como existe mais água na região, o que mais impressionou foi a quantidade de sapos cururus .Descendo ainda mais a serra, o trio foi acampar no Olho D’água das Andorinhas, que deveria se chamar Olho D’água dos Cururus: o pequeno olho d’água, onde eles tomaram banho, tinha mais de 30 cururus gigantes .

No outro dia, foram feitas caminhadas a mirantes e foi avistado um arisco veado-campeiro em meio à vegetação mais baixa. Na saída do Parque, cadê a cobra ??? Eles tinham deixado a coitada dentro da caixa, em baixo de uma árvore lá na Gruta do Rios dos Bois…onde voltaram para resgatá-la depois de um dia.

Na saída do PN da Serra das Confusões passaram na cidade de Cristino Castro, na região da Serra da Gurguéia, conhecida pelos seus poços jorrantes. Cada morador constrói um poço, de onde a água jorra sem necessidade de motor algum, desperdiçando milhares de litros de água diariamente. A paisagem choca, pois, a menos de 100 km dali, a população vive o drama da seca todos os dias. Dias depois, vimos nos jornais locais que saiu uma lei proibindo a abertura desse tipo de poço na região.

 

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
EnglishPortuguese